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Movimento Olímpico, neocolonialismo e hegemonia ocidental: um tema candente, porém ignorado

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                                                                                           Neilton Ferreira Júnior T oda quebra de ciclo olímpico se apresenta como sintoma da crise social, política e econômica do seu tempo. Mas nem por isso o movimento olímpico deixou se estabelecer no mundo de modo imperativo, independentemente das crises, guerras, pestes e genocídios coloniais em curso. Essa soberania se constitui ainda no início do século XX, contando com um poderoso suporte político e financeiro, além da infraestrutura esportiva herdada das expansões colonialistas britânica, alemã, francesa e estadunidense pelo Caribe, África e Ásia. Sim, a hegemonia planetária do esporte moderno não se explica apenas à luz da Revolução Industrial. Trata-se de um fenômeno que se desenvolveu na esteira do colonialismo, contribuindo para o desaparecimento ou marginalização de práticas corporais preexistentes . [1]   A afirmação e estabelecimento do Movimento Olímpico não só esteve conectada, como foi

Por uma virada conceitual do Esporte contra o realismo capitalista

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                                                                                                               Neilton Ferreira Júnior                  Que é o Esporte afinal? Parafraseando Santo Agostinho, "se ninguém me pergunta, eu sei; mas se quero explicá-lo a quem me pede, já não sei" (1) . No campo sempre nebuloso da conceituação do Esporte impera a ideia "contrária às generalizações", segundo a qual é necessário estabelecer distinção entre  Esporte de Alto Rendimento , Esporte de Participação e Esporte Educacional . Com isso, confere-se ao primeiro fenômeno a mesma legitimidade e distinção dos demais. Ainda assim, tal distinção busca exprimir não mais que os objetivos de que se servem aqueles que se envolvem direta ou indiretamente com os Esportes.          A questão, portanto, permanece latente, aberta, e não cessa de retornar à superfície em ocasiões chave, quando, por exemplo, a questão do trabalho infantil se confunde, ou é nublada por concepções como

A “doença” que há meio século assola o esporte

              Caro leitor, antes de mais, permita-me apresentar-me, e fazer alguns desvios, os quais considero importantes à esta breve reflexão. Longe de subestimar sua capacidade de interpretação, quero apenas estabelecer algumas marcações biográficas e conceituais, sem as quais nada do que aqui escrevo lhe fará sentido. A primeira marcação se refere ao autor do texto.            Sou um homem negro de 36 anos de idade, que nasceu e cresceu nas periferias de Osasco e Carapicuíba, Grande São Paulo. Um ex-jogador de basquete e apaixonado pelo esporte que – talvez por isso – decidiu seguir carreira profissional em Educação Física.             Minha experiência com o basquetebol teve início entre os anos 1997/98, época em que comecei a assistir às temporadas da NBA pela TV e a me encantar com o espetáculo esportivo. E aqui vai uma marcação conceitual.           Por espetáculo esportivo, refiro-me a esta imensa infra-estrutura que conjuga manifestações atléticas competitivas, animadas por

Por uma política da ludicidade e da reorientação ideológica contra a desumanização neoliberal - parte I

Neilton Ferreira Junior Vivemos um período de retrocesso marcado por políticas de subtração de direitos, violência extrema, aprofundamento da depredação ambiental e flagrante precarização da vida. Situação que muitos analistas vão classificar como resultado da radicalização e transmutação de um sistema capitalista que, a partir dos anos 1970, assumiu forma neoliberal . Forma que, segundo os sociólogos Pierre Dardot e Cristian Laval, tem sua origem ainda anos 1930 e influência de uma ortodoxia liberal dedicada não apenas às questões de política econômica, mas à redefinição da própria ontologia humana e dinâmica social. Mais que uma ideologia, argumentam os autores, o neoliberaliemo compreende uma racionalidade, mecanismo de produção de uma nova sujeitividade e sujeito: o neosujeito, o "empresário de si mesmo" (1) . Esta racionalidade espraiou-se pelas chamada